quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Das tantas reticências entre parenteses (...)

Aperta o play naquela playlist nostálgica e cheia de memórias de um meio passado quase inventado. Revira o estomago, a cabeça e sua linha do tempo tão bagunçada. Esquece do presente feliz e colorido e se afoga num cenário cinzento e embaraçado, que aos poucos desaba dentro de si.

Tem dias em que não consegue escapar pela escada dourada abaixo da luz de um lindo dia, ainda que aquelas belas mãos estejam estendidas. Ela sabe que não é bom, mas sente a necessidade de voltar no tempo em que ainda estavam juntos. Porque é assim que ela vê. Apesar das dores, da ausência e de um tudo que nunca passou de nada, ela foi feliz com ele, mesmo sabendo que nunca esteve com ele, e que ele nunca foi seu.

Então se pergunta como seria se naquela noite quente ela tivesse dito sua localização. Ele sempre soube calar os questionamentos infinitos dela, sempre soube tirar dela o que ele bem queria, sem exigências. Porque no fundo ela sabia que ele era assim, e não podia ser diferente. Mas naquela noite ele saiu do roteiro, depois de perceber que ela havia descoberto a escada dourada debaixo da luz. Foi até lá e pediu que ela voltasse e quis ser dela. Mas as belas mãos estavam estendidas para si, e ela gostava do seu toque suave e aroma agradável. Já no meio da escada, olhava para cima e para baixo. Ele já mentira algumas vezes, e não tinha problema, porque ela sabia que não o tinha por completo. Por outro lado as belas mãos a puxavam para cima, e ela podia avistar um lindo jardim florido. Foi então que ela olhou para ele e lhe disse não pela primeira vez, com o coração todo acelerado, cheia de esperança que ele subisse as escadas atrás dela, mas ele não foi.

Outro dia ela voltou ao buraco escuro, desceu as escadas e percebeu que ele havia apanhado algumas flores lá de cima. O cenário cinzento estava um pouco mais colorido. Quando a viu ele quis estar com ela, mas ele tinha visita e ela se perdera, toda embaraçada, saiu correndo de volta para a escada dourada e subiu depressa. Ele fora até o topo atrás dela, mas hesitou enquanto ela corria sem olhar para trás.

Passado um tempo ela descobriu que ele havia se mudado do buraco escuro, agora vivia noutro jardim como ela e estava prestes a florescer. Tempo depois ele fora até ela e levou algumas flores, eles se olharam lentamente enquanto lembravam das tantas e divertidas histórias naquele buraco negro. Mas tudo que ela pode fazer foi dar-lhe as costas e prosseguir seu caminho sem as flores. Ele já dera seu coração por inteiro a outra e já floria em outro jardim. Das outras vezes fora mais fácil para ela. Mas dessa ele quebrou aquilo que os conectava.

Vez em quando ela volta aquele cenário cinzento, desce as escadas douradas e se lambuza de terra. Tira o pó dos quadros na parede, sorri para eles sozinha. Senta no canto mais escuro, fecha os olhos e revive lentamente todo o muito pouco que vivera ali com ele, e se pergunta se ele também corre algumas vezes até lá.

Agora, quando se esbaram é como se não existissem. Mas ela sabe, ele sabe. Em algum lugar no tempo eles ainda estão juntos.

"Saiba que é preciso amar você, não esqueça que estarei aqui e corra, corra (...)"
Amanhã Colorido - Cidadão Quem

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Da minha falta de palavras

"Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás."

Caio F. Abreu

Um sorriso, uma ausência, um abraço, um vazio, um chamego, uma saudade (...) que destrói. Porque em algum lugar no tempo, nós ainda estamos jun-tos.

domingo, 4 de março de 2012

Daquelas minhas crises, de sempre.

- Me desculpa.
- Por qual motivo?
- Por tudo, por essa confusão toda.

É isso que acontece quando as pessoas amontoam os sentimentos, quando não vivem seus amores até o final, não deixam ou são obrigadas a romper as emoções no meio da estrada, pela metade, sem chance de viver até o último ponto, sem poder sequer entender todo o motivo, ou motivo meio que seja. E levando em conta que a vida é curta, esse amontoado é um disperdício, de alma.

sábado, 26 de novembro de 2011

Devaneio

Estava tudo tão gostoso. Sorria feito criança. Sentia o coração pulsar forte - como quando a gente fica absurdamente feliz. Então tudo começou a ficar embaçado. As imagens foram se perdendo aos poucos e aquele rosto foi sendo desfigurado. Será um desmaio?


Derepente uma luz muito forte começou a surgir. Piscou os olhos vagarosamente por alguns instantes, até que finalmente conseguiu abri-los. Olhou a sua volta e percebeu que estava em um local conhecido e não mais naquele parque que nunca havia visto antes. Esse local era seu quarto. Acabara de despertar do sonho mais desejado que pudera ter. MERDA!

domingo, 7 de agosto de 2011

Nada além de ser (...)

Então, não perca seu tempo comigo. Eu não sou um corpo que você achou na noite. ...Eu não sou uma boca que precisa ser beijada por outra qualquer. Eu não preciso do seu dinheiro. Muito menos do seu carro. Mas, talvez, eu precise dos seus braços fortes. Das suas mãos quentes. Do seu colo pra eu me deitar. Do seu conselho quando meu lado menina não souber o que fazer do meu futuro. Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo.




Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Da atração física entre vidas (completamente) distintas

É que eu sei que é pura atração física. Que amanhã ou depois vai acabar. Como a primavera. Só que a primavera sempre volta depois do inverno. E sei que isso não volta. E não pode, não deve, não tem como e não vai. Que eu posso me arrepender de ter deixado algo de significado intenso ser só pele, por mais nada. Assim como ja me arrependi de deixar as coisas chegarem a tal ponto em que estão.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Assim, eu e você num (im)possível plural

"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que NADA devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."

Caio F. Abreu