sábado, 26 de novembro de 2011

Devaneio

Estava tudo tão gostoso. Sorria feito criança. Sentia o coração pulsar forte - como quando a gente fica absurdamente feliz. Então tudo começou a ficar embaçado. As imagens foram se perdendo aos poucos e aquele rosto foi sendo desfigurado. Será um desmaio?


Derepente uma luz muito forte começou a surgir. Piscou os olhos vagarosamente por alguns instantes, até que finalmente conseguiu abri-los. Olhou a sua volta e percebeu que estava em um local conhecido e não mais naquele parque que nunca havia visto antes. Esse local era seu quarto. Acabara de despertar do sonho mais desejado que pudera ter. MERDA!

domingo, 7 de agosto de 2011

Nada além de ser (...)

Então, não perca seu tempo comigo. Eu não sou um corpo que você achou na noite. ...Eu não sou uma boca que precisa ser beijada por outra qualquer. Eu não preciso do seu dinheiro. Muito menos do seu carro. Mas, talvez, eu precise dos seus braços fortes. Das suas mãos quentes. Do seu colo pra eu me deitar. Do seu conselho quando meu lado menina não souber o que fazer do meu futuro. Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo.




Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Da atração física entre vidas (completamente) distintas

É que eu sei que é pura atração física. Que amanhã ou depois vai acabar. Como a primavera. Só que a primavera sempre volta depois do inverno. E sei que isso não volta. E não pode, não deve, não tem como e não vai. Que eu posso me arrepender de ter deixado algo de significado intenso ser só pele, por mais nada. Assim como ja me arrependi de deixar as coisas chegarem a tal ponto em que estão.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Assim, eu e você num (im)possível plural

"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que NADA devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."

Caio F. Abreu

domingo, 10 de abril de 2011

Sensaboria

Os raios de sol que penetravam os vidros da janela, embora não estivessem tão fortes, faziam com que contraisse os olhos que ardiam de tantas noites mal dormidas. Agora, isso já não acontecia por conta de alguém, era essa rotina cretina que a consumia. Aquilo estava a dois meses de amenizar e era isso que a confortava. Mas não só a semana massacrante fazia com que rejeitasse assim os raios de sol. A verdade é que estava cansada - não só fisicamente. Estava farta dos meio-termos daquela gente morna. Das desculpas mais do que esfarrapadas de pessoas levianas. Essa surficialidade que consumia. Esse não querer por completo ou não saber ser inteiro. Toda essa coisa inexa e desgastante que todos os que lhe cercavam pareciam levar da forma mais comum. Como se toda aquela promiscuidade tivesse algum fundamento. Mas não tinha. Ela não via fundamento algum. Esta cansada das coisa sureais. Das saudades verbais ou escritas, que eram cheias um vazio, um nada. Cheias daquilo que não era saudade. Farta de adjetivos supostamente afetivos, usados sem cuidado algum, desmoralizando a palavra afeto. As pessoas pareciam cada vez mais frias, robotizadas. A palavra amor agora era usada com descuido. Não que ela fosse a melhor pessoa para falar sobre amor, mas acreditava naquele sentimento que envolvia seus pais, mesmo depois de longos vinte e sete anos, e pelo visto seria assim, da mesma forma nos anos que estavam por vir.
Mas era silêncio, não tinha mais som de violino. Era monótono. O sol penetrava a janela, atingia sua pele e ela rejeitava. Não acreditava mais. Estava quase sem forças.

sábado, 19 de março de 2011

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Meu coração tá ferido de amar errado.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Quarta-feira casual

Botou o short de cós alto, os sapatos jeans, ajeitou o cabelo, pegou a bolsa e saiu. Dia chuvoso, vento frio. Melhores amigas do passado e uma busca incansável por um bom bar em plena quarta-feira. Inútil. Seus gostos já não eram mais tão parecidos.
23h51.
- Happy Hour?
- Ok, vamos lá! - foi o som a maioria.
E foram. Ela detestou a ideia. Não estava com o mínimo tesão para um "PUB", mas, não havia outras escolha. Entraram - já com um certo friozinho na barriga. Ambiente legal, muitas pessoas e o dobro de chuva do lado de fora. Subiram para o deck, ajeitaram uma mesa, duas cadeiras. Quatro delas ficaram de pé. Ela, claro, sentou-se.
A morena, alta de corpão sarado que muitos homens desejavam sem saber que , embora não transparecesse, era desprovida de libido masculino cutucou sua nuca. Virou-se sem cuidado algum, procurando o indicador do cutucão, mas depois de uma rotação de 180°, paralisou-se, imperceptível, claro.
Ali, de pé, braços cruzados, camisa pólo, estava um sorriso contornado por uma barba mal feita que combinava com o cabelo castanho claro bagunçado. E era hétero.
Trocaram meias palavras. Ele sorria, e ela sorria por ver aqueles dentes tão bem desenhados formarem um sorrisinho canalha. Mais um daqueles tantos outros que já havia tido o (des)prazer de conhecer. Mas esse era o seu número.
As garrafas, já vazias, e a tequila no fundo de um dos copos sobre a mesa diziam claramente o porquê de aceitar estar ali em plena quarta-feira - que naquele momento já se fazia quinta - sendo que, no dia seguinte, trabalharia logo pela manhã: Sorrisinho canalha, era bem esse o motivo de tanta tequila. Mas não aquele presente. Um outro, quatro vezes pior.
Naquele momento, inexplicavelmente se sentiu a vontade. Ela tomava tequila, não dançava, mas o vento agora soprava de maneira diferente seus cabelos. As vozes tomaram tons agradáveis. E a vontade de dançar surgiu estranhamente.
Desceram para o porão. Ela não gostava de eletrônicas, mas algum tipo de impulso vital empurrava ela para se divertir. Assim como fazem os canalhas. E como aprendem as mulheres depois de algum tempo.
O som, muito alto, quase impedia que aquela voz - também malandra - chegasse aos tímpanos dela. Assim, aquela boca bem desenhada descia até o pé do ouvido e sussurrava quente meia dúzia de palavras que faziam com que ambos dessem aquele sorrisinho, do mais canalha, na pior das intenções, e os olhares se encontrassem quase que tímidos. Até os beijos, molhados, soados, pedindo pele e mordendo a fragilidade dos lábios.
Assim passaram-se alguns minutos ou horas. Nem mesmo o próprio relógio sabe dizer.
04h50.
Ela foi pagar sua comanda, ele permaneceria no lugar por mais algum tempo com os dois amigos. Ela juntou-se as outras cinco. Ele veio despedir-se. Segurou-a pela cintura, beijou-a com cuidado, sorriu. Outro beijo, dois sorrisos, disse que a procuraria. Entrelaçou os dedos nos dela até que, conforme ela ia cruzando a porta, os braços iam se esticando até o último toque dos indicadores. Ele deu uma piscadinha, ela sorriu e desceu as escadas. Era só mais um, só mais um de tantos e tantos outros sorrisinhos canalhas. Era apenas mais um namorico daqueles sem compromisso algum com os quais se divertia. A vida lhe havia ensinado que não só as tequilas eram uteis em quartas-feiras chuvosas como aquela. Os homens usavam as mulheres. E agora ela também usava os homens.
Chegou em casa, tirou a roupa, deixou a maquiagem. Jogou-se na cama sem programar o despertador e adormeceu.
O canalha, ficou naquela madruga casual de quarta-feira.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Dos adjetivos não encontrados

A gente sempre respira fundo e solta o ar de uma vez com um olhar nostálgico quando tenta encontrar adjetivo para expressar como acaba a alma - vazia - e talvez no sentido sólido da palavra. Mas bem lá no fundo ela sabia que, estar perdidamente apaixonada, era a melhor sensação do mundo. O que doía era esse fim que mais cedo ou mais tarde insistia em chegar, e que quando chegava destruía por dentro. Destruía sem porque algum, não havia sentido, apenas chegava ao fim sem explicação. E é bem aí que esta o problema. Esse querer saber o fundamento que fez tudo acontecer para acabar assim, em silêncio total. E é tão absoluto que, mesmo que a gente tente, não consegue encontrar aquele adjetivo que não explicaria o fundamento, mas expressaria aquela sensação que só quem sente sabe, que não transparece, só dói, assim, absoluto, completo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Irresoluto

Não lhe faltava nada. Era magra, alta, linda. Tinha emprego, bom saldo bancário, mantinha-se na academia e estava matriculada na faculdade. Havia um amor, daqueles bem sinceros, pronto pra lhe socorrer – mas não queria ser socorrida. Sem pensar nos namoricos passageiros sem compromisso algum com os quais se divertia – mas eram só instantâneos, depois sentia náusea se tornasse a pensar neles. Frequentava bons bares e jogava de vez em quando.
E estava ali, parada, sem porque nenhum, caçando exclamação em céu de interrogação. Ninguém sabia o porque. Ela mesma não sabia. Ou talvez soubesse. Vagava agora num horizonte sem fim, atrás de borboletas. E sonhava vez em quando sem querer acordar.
Então, lambeu os dedos sujos de chocolate, sentiu um gosto amargo, pensou na paixãozinha vagabunda, nas borboletas, nos acordes, naquela inquietude interior, que aos olhos alheio pareciam mais silêncio, e escreveu sem pensar:

"Serão só andorinhas?"

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Malogro de uma esperança

A verdade é que essa coisa, que ousamos chamar de amor sem cuidado nenhum, muitas vezes não é amor. Sendo assim, a palavra decepção, que por sinal também usamos com descuido, não seria um exagero?

domingo, 2 de janeiro de 2011

01h01

E nada tem o menor sentido que seja. Nem mesmo eu. Muito menos eu. Quem sou eu?