segunda-feira, 7 de março de 2011

Quarta-feira casual

Botou o short de cós alto, os sapatos jeans, ajeitou o cabelo, pegou a bolsa e saiu. Dia chuvoso, vento frio. Melhores amigas do passado e uma busca incansável por um bom bar em plena quarta-feira. Inútil. Seus gostos já não eram mais tão parecidos.
23h51.
- Happy Hour?
- Ok, vamos lá! - foi o som a maioria.
E foram. Ela detestou a ideia. Não estava com o mínimo tesão para um "PUB", mas, não havia outras escolha. Entraram - já com um certo friozinho na barriga. Ambiente legal, muitas pessoas e o dobro de chuva do lado de fora. Subiram para o deck, ajeitaram uma mesa, duas cadeiras. Quatro delas ficaram de pé. Ela, claro, sentou-se.
A morena, alta de corpão sarado que muitos homens desejavam sem saber que , embora não transparecesse, era desprovida de libido masculino cutucou sua nuca. Virou-se sem cuidado algum, procurando o indicador do cutucão, mas depois de uma rotação de 180°, paralisou-se, imperceptível, claro.
Ali, de pé, braços cruzados, camisa pólo, estava um sorriso contornado por uma barba mal feita que combinava com o cabelo castanho claro bagunçado. E era hétero.
Trocaram meias palavras. Ele sorria, e ela sorria por ver aqueles dentes tão bem desenhados formarem um sorrisinho canalha. Mais um daqueles tantos outros que já havia tido o (des)prazer de conhecer. Mas esse era o seu número.
As garrafas, já vazias, e a tequila no fundo de um dos copos sobre a mesa diziam claramente o porquê de aceitar estar ali em plena quarta-feira - que naquele momento já se fazia quinta - sendo que, no dia seguinte, trabalharia logo pela manhã: Sorrisinho canalha, era bem esse o motivo de tanta tequila. Mas não aquele presente. Um outro, quatro vezes pior.
Naquele momento, inexplicavelmente se sentiu a vontade. Ela tomava tequila, não dançava, mas o vento agora soprava de maneira diferente seus cabelos. As vozes tomaram tons agradáveis. E a vontade de dançar surgiu estranhamente.
Desceram para o porão. Ela não gostava de eletrônicas, mas algum tipo de impulso vital empurrava ela para se divertir. Assim como fazem os canalhas. E como aprendem as mulheres depois de algum tempo.
O som, muito alto, quase impedia que aquela voz - também malandra - chegasse aos tímpanos dela. Assim, aquela boca bem desenhada descia até o pé do ouvido e sussurrava quente meia dúzia de palavras que faziam com que ambos dessem aquele sorrisinho, do mais canalha, na pior das intenções, e os olhares se encontrassem quase que tímidos. Até os beijos, molhados, soados, pedindo pele e mordendo a fragilidade dos lábios.
Assim passaram-se alguns minutos ou horas. Nem mesmo o próprio relógio sabe dizer.
04h50.
Ela foi pagar sua comanda, ele permaneceria no lugar por mais algum tempo com os dois amigos. Ela juntou-se as outras cinco. Ele veio despedir-se. Segurou-a pela cintura, beijou-a com cuidado, sorriu. Outro beijo, dois sorrisos, disse que a procuraria. Entrelaçou os dedos nos dela até que, conforme ela ia cruzando a porta, os braços iam se esticando até o último toque dos indicadores. Ele deu uma piscadinha, ela sorriu e desceu as escadas. Era só mais um, só mais um de tantos e tantos outros sorrisinhos canalhas. Era apenas mais um namorico daqueles sem compromisso algum com os quais se divertia. A vida lhe havia ensinado que não só as tequilas eram uteis em quartas-feiras chuvosas como aquela. Os homens usavam as mulheres. E agora ela também usava os homens.
Chegou em casa, tirou a roupa, deixou a maquiagem. Jogou-se na cama sem programar o despertador e adormeceu.
O canalha, ficou naquela madruga casual de quarta-feira.

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