quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Anedota consequente do abismo

- Onde foi o amor, seu moço?
- Não sei dizer.
- Tenho saudades. Ele volta?
- Sei não, viu.
- Se por um acaso encontrá-lo por aí, diz pra voltar para casa.
- Vai ficar esperando por ele até quando, menina?
- Só me promete que diz.
- Tá bem.

- E se ele morreu, seu moço?
- Você devia pegar outra estrada, garota.
- Mas e se ele voltar, e eu não estiver aqui?
- E se ele não voltar, menina?


Aqueles olhos da rapariga, escuros feito jabuticaba, lagrimejaram. Ecorreram lágrimas quentes na pela rosada e o vento soprava forte os longos cabelos castanhos.
O senhor virou-se e seguiu a estrada. Já longe:

- Seu moço, espera!
- Que é que foi, menina?

Enxugou as lágrimas e respirou fundo.

- O senhor acha que o amor não vai voltar?
- Eu acho que não deveria ficar esperando, menina.

Puxou um leve sorriso forçado e triste, que se desfez em menos de três segundos.
Seu moço tinha razão, mas a rapariga não sabia mais o que fazer.
A cadeira do amor, vazia, parecia encher-se apenas de pó. Não conversavam mais, não trocavam carinho. A rotina estava sendo o caminho. Não diziam mais aquilo que trazia cor ao dia-a-dia. Deixaram de se ver fazendo algum sentido. Estavam deixando escapar por entre os dedos a chance de manter unidas as suas vidas.

- Se encontrá-lo seu moço, assim por um acaso, diz a ele que eu sinto falta de tudo aquilo que éramos. Que tenho saudade das suas manias, do perfume que tem sua pele macia. Que os olhos escuros que me fazem sorrir, e que seus braços que me acalmam, me fazem muita falta. Diz seu moço, que ele é aquele que eu amo, ainda que ausente.
- Digo menina, se ele quiser me ouvir.

Seu moço foi embora.

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